Durante a pandemia, a preferência pelos deslocamentos a pé subiu de 9% para 23%. Esse aumento traz novos desafios para o poder público, que precisa oferecer condições seguras para os pedestres.
“As cidades são pensadas para os carros. Elas não são pensadas pra gente caminhar”. Assim a engenheira de transportes e sócia-diretora da Metrics Mobilidade, Janaína Amorim, resumiu o problema da falta de projetos adequados para melhorar o transporte a pé nas cidades brasileiras. A provocação foi feita durante a live realizada pela TransCon, na última quinta-feira (12/08), sobre Mobilidade Ativa – Transporte a pé. O encontro contou também com a participação da mestranda em Geotecnia e Transportes, Ana Paula Freitas, e da diretora de Planejamento de Trânsito da TransCon, Marina Moreira.
Janaína ressaltou a importância de se pensar em sinalizações urbanas específicas para o deslocamento ativo. “É interessante tratar a sinalização dos pedestres e ciclistas em minutos ao invés de quilômetros, porque as pessoas se assustam com a distância”, disse. Ela acredita que seja possível incentivar as pessoas a fazerem pequenos deslocamentos a pé, mas, para isso, é preciso que as cidades tenham calçadas mais convidativas, acessibilidade e segurança. “A cidade deve ser pensada com o foco nas pessoas”.
Durante o encontro on-line, Ana Paula Freitas, falou sobre o conceito da Cidade de 15 minutos. “É justamente trabalhar com a ideia da cidade compacta, ou seja, você consegue fazer tudo que é preciso durante o dia num raio de 15 minutos” , explicou. Ana Paula faz parte do grupo SOnhANDO A PÉ, que busca melhorar a mobilidade a pé em conjunto com crianças e adolescentes.
Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 500 crianças morrem todos os dias em sinistros de trânsito, ao redor do mundo. “Somente isso já é uma motivação para mudar nossos espaços. A criança de hoje é o adulto de amanhã. Se conscientizarmos as crianças, futuramente os adultos reconhecerão a importância de um bom ambiente para os pedestres”, afirmou Ana Paula.
“Andar um quilômetro pode ser extremamente agradável e tranquilo, sem nem ver, ou pode ser um suplício”, definiu a diretora de Planejamento de Trânsito da TransCon, Marina Reis. De acordo com ela, tudo depende das condições ofertadas para o deslocamento. “O planejamento do transporte não pode estar desvinculado de um planejamento mais amplo, da cidade como um todo. As duas coisas estão juntas” completou.
Transporte a pé
A discussão surge no contexto em que a preferência pelos deslocamentos a pé subiu de 9% para 23%, segundo a Rede Brasileira de Urbanismo Colaborativo. O motivo são as medidas de isolamento social e a menor oferta de transporte público durante a pandemia. Estima-se que parte deste grupo siga adotando essa prática no pós-pandemia.
Assim, é preciso colaborar para um deslocamento adequado. Arborização, calçadas de qualidade, boa iluminação e acessibilidade são fatores que podem ser determinantes para uma pessoa escolher deixar o transporte motorizado e andar a pé.
Assista a live completa no vídeo abaixo: